INTRODUÇÃO
O Basalto de Dorsal Meso-Oceânica, conhecido pela sigla MORB (Mid-Ocean Ridge Basalt), é a rocha vulcânica mais abundante da Terra.
Forma a crosta oceânica através da atividade vulcânica contínua ao longo das dorsais meso-oceânicas, que são limites divergentes de placas tectónicas, estendendo-se por mais de 60.000 km no fundo oceânico.
O MORB é de grande importância na petrologia ígnea, pois fornece evidências diretas dos processos mantélicos, da geração de magmas e da dinâmica da tectónica de placas.
O seu estudo permite reconstruir a composição do manto, a química dos magmas e a evolução térmica da litosfera terrestre.
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO MORB
É uma rocha vulcânica máfica de granulação fina, composta principalmente por feldspato plagioclásio, piroxénio e olivina, com pequenas quantidades de óxidos de Fe-Ti.
A sua textura é geralmente afanítica a porfirítica, devido ao arrefecimento rápido sob a água.
Apresenta cor escura (preta a cinza-escura) e muitas vezes vesículas resultantes de gases aprisionados.
Quimicamente, é pobre em potássio e alumínio, mas rico em magnésio, cálcio e ferro.
TIPOS DE MORB
Com base em elementos-traço e assinaturas isotópicas, o MORB divide-se em três variedades:
MORB Normal (N-MORB): Pobre em elementos incompatíveis. Representa fusão parcial de um manto depletado.
MORB Enriquecido (E-MORB): Maior concentração de elementos incompatíveis (K, Ti, ETR). Reflete heterogeneidade mantélica.
MORB Transicional (T-MORB): Composição intermédia entre N-MORB e E-MORB. Essa classificação evidencia a complexidade do manto sob as dorsais oceânicas.
PROCESSOS DE FORMAÇÃO
Forma-se por fusão parcial do manto superior, a 40–80 km de profundidade.
O soerguimento do peridotito mantélico nas zonas de divergência reduz a pressão, provocando fusão por descompressão.
O magma basáltico ascende pelas fraturas e extravasa no fundo do mar, formando:
Lavas em almofada (pillow lavas)
Diques em folha (sheeted dikes)
Intrusões gabroicas
Essa sequência é bem preservada nos ofiolitos, que são fragmentos de litosfera oceânica expostos em continentes.
TEXTURA E MINERALOGIA
Dominado por matriz fina de plagioclásio e piroxénio, com pequenos fenocristais de olivina.
Estruturas típicas: lavas em almofada (extrusão sob água).
Textura vesicular comum, muitas vezes preenchida por minerais secundários (zeólitas, calcite).
Os cristais de plagioclásio mostram frequentemente orientação de fluxo, reflexo do arrefecimento rápido.
COMPOSIÇÃO QUÍMICA
Basalto toleítico, com: Baixo teor de K2O (<0,2%), SiO2 moderado (45–52%), Teores elevados de Fe, Mg e Ca.
Os elementos terras raras (ETR) são essenciais para interpretar processos mantélicos: N-MORB → empobrecido em ETR leves. E-MORB → enriquecido em ETR leves. Isótopos de Sr, Nd e Pb ajudam a identificar diferentes reservatórios mantélicos.
SIGNIFICADO TECTÓNICO
O MORB é um produto direto da tectónica de placas, registando a contínua formação da crosta oceânica.
Serve como marcador geológico de limites divergentes.
Permite calcular taxas de expansão do fundo oceânico, padrões de convecção mantélica e ciclos geoquímicos globais.
A interação entre plumas mantélicas e dorsais (ex.: Islândia) pode modificar a composição do MORB.
APLICAÇÕES ECONÓMICAS E PRÁTICAS
Embora não seja uma rocha mineralizada por si, o MORB está associado a:
Depósitos de sulfuretos maciços submarinos (VMS) → ricos em Cu, Zn, Au e Ag.
Circulação hidrotermal → controla a química oceânica e sustenta ecossistemas marinhos profundos.
Geologia do petróleo → conhecimento da crosta oceânica é essencial em margens passivas.
Geoquímica → o MORB é referência para estudos de fusão mantélica e reciclagem crustal.
MORB E SISTEMAS HIDROTERMAIS
Está intimamente ligado às fontes hidrotermais (“black smokers”).
A água do mar infiltra-se em fraturas do MORB recém-formado, aquece, dissolve metais e depois precipita-os no fundo marinho.
Esse processo cria depósitos minerais e sustenta vida baseada em quimiossíntese, unindo geologia e biologia.
MÉTODOS DE ESTUDO MODERNOS
Perfurações oceânicas (IODP) → obtêm testemunhos do MORB.
ROVs e submersíveis → permitem observação e amostragem direta.
Geoquímica analítica (ICP-MS, XRF) → análise detalhada de elementos e isótopos.
Tomografia sísmica → mapeia zonas de fusão no manto.
Geoquímica isotópica (Sr-Nd-Pb-Hf) → refina modelos de heterogeneidade mantélica.
Altimetria por satélite → mapeia dorsais oceânicas e taxas de expansão.
IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS E PLANETÁRIAS
O MORB participa dos ciclos globais de carbono, enxofre e água. Rochas semelhantes ao MORB foram identificadas em Marte, na Lua e noutros planetas rochosos, fazendo dele um análogo planetário importante.
ESTUDOS DE CASO
Dorsal Meso-Atlântica: interação entre MORB e pluma mantélica da Islândia.
Dorsal do Pacífico Leste: uma das zonas de expansão mais rápidas, com intensa formação de MORB.
Dorsais do Oceano Índico: mostram forte heterogeneidade mantélica.
CONCLUSÃO
O MORB é a rocha vulcânica mais representativa da crosta oceânica e desempenha um papel central na compreensão da petrologia ígnea, dinâmica do manto e tectónica de placas.
As suas características químicas e texturais fornecem pistas essenciais sobre os processos mantélicos, enquanto a sua ligação a sistemas hidrotermais conecta a geologia com a biologia e os recursos minerais.
Com o avanço de novas tecnologias (perfurações profundas, geoquímica isotópica, sismologia 3D), o estudo do MORB continua a expandir-se, revelando não apenas os processos internos da Terra, mas também a evolução de planetas rochosos.
O MORB não é apenas uma rocha, é uma chave para desvendar os processos internos da Terra e a evolução planetária.